
A Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) realizou, na última quarta-feira (06/08), uma visita técnica a trechos de canais de irrigação no Núcleo Rural Jardim II do Paranoá. A ação faz parte de um conjunto de esforços desenvolvidos em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), a Secretaria de Agricultura (Seagri-DF), o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e a Agência Peixe Vivo. O objetivo é substituir trechos de canais a céu aberto por tubulações e instalar reservatórios lonados, promovendo maior eficiência no uso da água e segurança hídrica para os produtores rurais.
Durante a visita, os técnicos da Adasa puderam acompanhar a execução das obras, dialogar com produtores rurais beneficiados e avaliar os impactos das intervenções. No Distrito Federal, há cerca de 250 km de canais de irrigação, dos quais mais de 150 km já foram tubulados com o apoio de diferentes fontes de financiamento — incluindo emendas parlamentares, recursos do GDF, entre outros. O projeto em andamento contempla trechos da bacia do Rio Preto, na porção oeste do DF, e representa mais um passo importante no processo de modernização da infraestrutura hídrica rural.
Os recursos aplicados vêm da cobrança pelo uso da água na bacia - conforme a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/97)- e, dentro desse panorama, a parceria com o CBHSF responde por aproximadamente 10% das obras já executadas, com 16,5 km de canais previstos, dos quais 6,95 km já foram concluídos. O acordo também prevê a instalação de 247 reservatórios lonados, com 45 já implementados até o momento.
De acordo com o superintendente de Recursos Hídricos da Adasa, Gustavo Carneiro, esse é um exemplo claro de como o valor pago pelos produtores retorna em benefícios concretos. “Transformamos canais abertos em sistemas fechados, com tubos enterrados, para minimizar perdas, enquanto os reservatórios funcionam como pulmões do sistema, garantindo reserva em períodos de escassez”, explicou. “Grandes produtores conseguem investir, mas o pequeno depende da infraestrutura para que a água chegue até ele. E isso só é possível com obras como essa”, completou.
O Comitê investiu cerca de R$5 milhões na aquisição de tubulações e kits para reservatórios. As estruturas têm papel fundamental na redução das perdas de água, que antes das intervenções ultrapassavam 50%, segundo estudos técnicos. Após a compra, os materiais são enviados ao Distrito Federal, armazenados pela Seagri e instalados com o apoio das equipes locais, sob coordenação da Emater-DF. Além de melhorar a eficiência hídrica, o projeto fortalece a produção agrícola familiar e gera impactos positivos na geração de emprego e renda nas comunidades atendidas.
“A estruturação dos canais e dos reservatórios de água lonados, viabilizada por meio do acordo de cooperação técnica entre Adasa, Emater-DF e Seagri, tem contribuído diretamente para a expansão das áreas cultivadas, a adoção de tecnologias mais eficientes e o uso racional da irrigação pelos agricultores da região. A gestão adequada dos recursos hídricos é uma prioridade para todas as instituições envolvidas e para o Distrito Federal como um todo. Esse investimento do Governo do Distrito Federal fortalece a segurança hídrica e gera benefícios que extrapolam o meio rural, alcançando toda a sociedade.”, destacou Loiselene Carvalho da Trindade, diretora executiva da Emater-DF.
Para o diretor da Adasa, Apolinário Rebelo, é fundamental reconhecer a importância da agricultura no Cerrado e o papel das instituições públicas na transformação dessa realidade.“Há cerca de 100 anos, o Cerrado era visto como área improdutiva. O homem do campo, junto com a Embrapa e a Emater, mudou essa realidade. Embora apenas 4% da população do DF seja rural, essa parcela é decisiva para a cidade. Garantir acesso à água é garantir produção. Sem água, não há agricultura viável. O risco é que essas áreas sejam loteadas. Hoje, o DF importa 87% dos alimentos que consome. Produzir localmente poderá reduzir custos para todos”, afirmou.
Produtores contemplados com a iniciativa também relataram os impactos positivos da chegada da água em suas propriedades. Dona Maria Ribeiro da Silva se emocionou ao lembrar do momento em que voltou a ter acesso ao recurso. “Eu estava sem água, anos e anos! Aí, de repente, veio a água. Que coisa maravilhosa! Até as galinhas ficaram felizes”, contou.
Francisco Silva, seu filho, destacou o salto na produtividade proporcionado pela nova estrutura. “Antes, a água nem chegava mais aqui. Agora, com o canal enterrado, a água corre direto e a gente pode usar o ano todo. Como produtor de limão, vou conseguir duplicar, talvez triplicar a minha produção com o sistema de gotejamento. E quanto ao reservatório, vai durar muito tempo se a gente souber cuidar”, comentou.
Aldimar, conhecido na região como “Terra Seca”, também relatou os benefícios no dia a dia da produção. “Antes, perdíamos muita água por evaporação e infiltração. Agora, chega certinha. Planto tomate, berinjela, abobrinha, pimentão. Com o canal enterrado e o reservatório, posso irrigar o ano inteiro. Estou planejando, inclusive, instalar um pivô. Isso só foi possível porque sabia que o reservatório viria. Agora a produção será contínua”, comemorou.
Com a revitalização dos canais e a construção dos reservatórios, cerca de 300 famílias serão diretamente beneficiadas, fortalecendo a agricultura familiar, gerando emprego, renda e reforçando a segurança hídrica no Distrito Federal.
“Tubular um canal e lonar um reservatório é uma ação concreta de respeito a um bem precioso: a água. Ela abastece outras comunidades na bacia, inclusive para consumo humano. É solidariedade entre regiões”, arrematou Rafael Mello, superintendente de Abastecimento de Água e Esgoto da Adasa.
Além dos diretores da Adasa e da Emater e dos superintendentes da Agência, também participaram da visita o coordenador de fiscalização da Adasa, Rodrigo Marques de Mello; o colaborador da SAE/Adasa, Thiago Lopes Fernandes; o gerente da unidade local da Emater, Douglas Mariz; o supervisor regional da Emater, Rafael Venturini; o técnico da Emater e assessor do projeto, Edvan Ribeiro; além de outros colaboradores da Emater envolvidos na execução dos trabalhos.