O Legado do Processo Temático do 8° Fórum Mundial da Água

O Legado do Processo Temático do

8º Fórum Mundial da Água*

O Processo Temático foi responsável pela definição dos temas prioritários e da estrutura temática do 8º Fórum Mundial da Água, sendo a grande espinha dorsal do evento e a base para os debates e documentos gerados no âmbito de sua realização. Além da parte técnica, este Processo ainda teve como missão o envolvimento dos diferentes setores, regiões, gêneros e idades, incluindo a sociedade civil nas discussões acerca do tema água. Mais de 10 mil congressistas participaram da das discussões temáticas do Fórum, mas o sucesso de um evento como este não pode ser medido apenas pelo número de participantes, mas pela qualidade dos debates e o legado que deixa para o mundo.

Com base nos resultados extraídos das sessões, a Comissão do Processo Temático trabalhou para extrair mensagens-chave para cada um dos 32 tópicos estabelecidos na estrutura temática do Fórum. O esforço gerou um resumo de 15 temas que se repetiram em diferentes mensagens e que podem ser considerados como prioritários para o atingimento das metas estabelecidas pelo Objetivo do Desenvolvimento Sustentável número 6 (ODS 6), que é garantir água e saneamento para todos até 2030.

Dentre os temas que se destacaram, dois deles apresentam uma escala maior de análise, a busca pela segurança hídrica tendo a água e o saneamento básico como direito humano, que indicam o reconhecimento do desafio de atender a todos, com a qualidade necessária, durante todo o tempo.

Em relação ao como fazer, seguindo a tendência expressa na edição de 2018 do relatório das Nações Unidas para o desenvolvimento do setor de água no mundo, evidenciaram-se as soluções baseadas na natureza e a necessidade de integração de infraestruturas cinzas (obras) e verdes (áreas com vegetação), quando possível, para evitar ou minimizar problemas relativos à quantidade e a qualidade da água. Destacou-se o fato de as infraestruturas terem que ser planejadas e operadas tendo em consideração os seus múltiplos propósitos, sem esquecer-se das questões ambientais ou dos “direitos do rio”.

Os investimentos nas áreas de água e saneamento precisam aumentar de forma significativa para o alcance das metas estabelecidas no ODS 6. No entanto, também foi externado de forma bastante clara que ter apenas recursos financeiros não basta, sendo a boa governança algo fundamental para que os avanços aconteçam de forma equitativa e inclusiva. Não é sem motivo que alguns dos outros termos destacados se remetem diretamente à questão da governança, como coordenação, participação e integração.

Questões relacionadas à inovação foram recorrentes durante o Fórum, tanto no campo de equipamentos quanto no de aplicativos e outras ferramentas tecnológicas que estão cada vez mais comuns, requerendo laços mais eficientes entre a academia/ciência e os atores do sistema de gestão. A questão da comunicação das informações, de forma aberta, transparente, democrática e que atinja efetivamente o seu usuário final, foi outro ponto repetidamente levantado durante as discussões. A comunicação também foi apresentada como importante instrumento de capacitação, mas não a única. O senso comum é de que a capacitação deve acontecer de forma ampla, em todos os níveis, desde os elaboradores e aplicadores da lei, passando por gestores e usuários, chegando à sociedade civil.

Por fim, o tema central do Fórum, “Compartilhando Água”, orientou grande parte das discussões ocorridas nas sessões. A abordagem sobre compartilhamento, conforme pretendido originalmente, foi além da troca de experiências e práticas, chegando divisão de responsabilidades no que se refere à gestão dos recursos hídricos. Ficou clara, ainda, a necessidade e a relevância do estabelecimento de parcerias como forma a acelerar os processos de aprendizagem e ganho de escala na implementação das ações necessárias para a solução dos problemas de água e saneamento que ainda assolam milhares de pessoas no mundo. Neste sentido, esperamos que essa grande rede de instituições e pessoas continue mobilizada e atuante para que possamos mostrar avanços efetivos já no próximo Fórum Mundial, em 2021, no Senegal.

O relatório completo do Processo Temático estará em breve à disposição da sociedade como importante fonte de dados, informações e propostas para dar suporte à evolução das ações no que se refere ao tema Água.

 

*Jorge Werneck Lima

Vice-presidente da Comissão Temática do 8º Fórum Mundial da Água

Diretor da ADASA