Consumo consciente: o combate ao desperdício deve ser mantido sempre*

Recente pesquisa da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) traz um dado preocupante. O consumo de água no primeiro quadrimestre deste ano aumentou 10,1% em relação ao mesmo período de 2018, quando ainda vigorava o racionamento. Embora a comparação seja sobre os meses ainda sob restrição de consumo, o aumento chama a atenção, quando relacionado aos níveis anteriores à crise hídrica. Em 2016 foram consumidos no período 52,7 milhões de m³, enquanto que em 2019, o volume foi de 51 milhões, uma queda de 3,2%, mas muito próximo dos níveis anteriores.

A tendência de aumento do consumo já vinha sendo observada desde o fim das medidas restritivas, notadamente nos três últimos meses de 2018. Embora no acumulado do ano o crescimento tenha sido de apenas 0,6%, em relação a 2017, o aumento do consumo a partir do segundo semestre de 2018 foi de 3,4%.

A aviso de cautela, com base nos dados do Relatório da Adasa de Monitoramento Regular de Consumo de Água Tratada no DF, refere-se à mudança de comportamento do brasiliense, que no período crítico de escassez hídrica incorporou à sua rotina o uso racional da água, no controle do desperdício e na adoção de práticas de reúso.

A Organização das Nações Unidas (ONU) tem sido incansável na orientação de que a água é um bem finito e que o crescimento populacional aliado aos efeitos das variações climáticas, colocam em risco o abastecimento de água nas próximas décadas.

O tema Segurança Hídrica vem ganhando a cada dia destaque no cenário internacional, no sentido de debater e definir mecanismos que assegurem, de forma sustentável, o acesso à água com qualidade e quantidade necessárias, dentro de condições que permitam o desenvolvimento socioeconômico e a preservação de ecossistemas em clima de paz e estabilidade política. 

A busca pela segurança hídrica é, portanto, um grande desafio, diante do quadro de incertezas, agravado por variações climáticas e fenômenos naturais.

O 8º Fórum Mundial da Água, realizado em Brasília em março de 2018, reforçou essa preocupação em manifestações de personalidades internacionais. O evento mundial, que de forma inédita permitiu a participação da sociedade, demonstrou de forma lúdica, na Vila Cidadã, os efeitos danosos aos recursos hídricos, decorrentes do descuido na conservação.

O evento enfatizou também a importância da gestão integrada entre os diversos usos da água, e compartilhada com todos os setores.

O consumo per capita no DF, que no auge do período da crise hídrica (2017) caiu 11,2%, em relação ao ano anterior, permaneceu praticamente estável, em 2018.  Dos 134 litros por habitante/dia, em 2017, passou para 133 litros, uma redução de 0,9%.

Das 31 regiões administrativas analisadas no referido estudo, 11 apresentaram aumento de consumo per capita em 2018, incluindo o Varjão, o Lago Norte, Itapoã e São Sebastião.

O relatório da Adasa também confirma a relação direta entre o consumo per capita e as classes de renda. Enquanto as regiões do Lago Sul, Lago Norte, Park Way, Plano Piloto e Jardim Botânico possuem elevados níveis de consumo médio (acima de 200 litros por habitante/dia), as do Riacho Fundo, Ceilândia, Itapoã, Samambaia e Paranoá indicam menores valores de consumo por habitante (entre 101 e 103 litros por habitante/dia).

Nos últimos cinco anos, o consumo de água no Distrito Federal vem registrando ritmo lento de queda, por razões diversas, e foi fortalecido principalmente no período de racionamento, quando a redução foi de 9,5%. 

A análise sobre o consumo de água no DF um ano após o fim do racionamento exige, portanto, reflexão.

Os reservatórios do Descoberto e do Santa Maria trabalham hoje com capacidade máxima e as projeções para o ano, traçadas pelo órgão regulador e expressas nas curvas de referência, indicam relativa tranquilidade para este ano. Porém, as boas práticas aprendidas no período crítico de abastecimento devem prevalecer e novas medidas, como o reúso e o aproveitamento da água de chuva, devem ser adotadas.

Não bastam os reservatórios cheios para garantir a segurança hídrica. É preciso que todas as instituições, órgãos de governo, setores produtivos e sobretudo a população mantenham postura responsável na proteção à água.

A segurança hídrica é, portanto, tema para esta e as futuras gerações e exige o envolvimento de todos!

 

*Paulo Salles, diretor-presidente da Adasa.